terça-feira, 15 de março de 2011

A Enseada das Nereidas



Nâo fossem as nereidas , ninfas do mar e filhas do velho Nereu , eu não teria conseguido. Quando me vi fora dos muros de Atlantis foram elas que me conduziam em segurança. Turvaram as águas, ocultaram nossa passagem em meio aos inimigos do meu povo. Atlantis estava sendo invadida e o inimigo formava um cerco extenso em torno da cidade. Clio e Ione, até hoje não sei bem como , me esperavam prontas para me levarem. È fato que elas sabem tudo o que acontece no reino de meu pai, e também é sabido que Nereu, seu pai e integrante do Conselho de Atlantis , se utiliza de suas filhas , bem de como outros seres marinhos , para se manter informado de tudo o que acontece nos mares e no resto do mundo. Mas por vezes me pergunto como elas teriam ficado sabendo dos meus planos de fuga aquele dia. É claro que comentei minha vontade de faze-lo, o meu desejo de conhecer a superfície e da minha ânsia de liberdade e frustração pelo peso da profecia. Isso tudo não era segredo, nem mesmo para meu irmão, mas meus planos de fuga aquele dia, eu os guardei somente para mim. Mas elas estavam lá, montadas em belos cavalos marinhos gigantes, com perolas entrelaçadas nos cabelos e os belos rostos exibindo um sorriso sereno para mim.
– Viemos ajuda-la princesa. – E Ione pousou o olhar para o tridente que eu trazia na mão. Percebi um menear de cabeça respeitoso. O Trident era de Anfitrite, irmã das nereidas e senhora dos mares, esposa de meu pai. Dado a casa real de Atlantis como símbolo de poder e domínio dos mares. Ele seria meu quando coroada. Tudo bem que eu estava fugindo, mas ao meu ver ele me pertencia, afinal , eu tinha pretensão de voltar. Anfitrite não morria de amores pelos filhos de meu pai com outras mulheres, mas nunca nos perseguiu e aparentemente aceitou nosso reinado de bom grado já que era da vontade de meu pai, oferecendo o tridente para que todas as rainhas pudessem reinar soberanas ao lado do seu rei.
Eu não tinha muito tempo para perguntas , o perigo nos cercava e segui as duas nereidas. Elas me levaram as encostas da ilha onde a irmã Calpyso , outra nereida, tinha morada. Foi la que fiquei por um bom tempo escondida e foi lá que fiquei sabendo dos planos de Hera e de sua participação ao ataque de Atlantis. Elas me contaram da insatisfação da deusa e da ordem de matar um dos gêmeos. Deixaram claro para mim que o melhor seria eu me manter afastada de Atlantis por um tempo e longe dos olhos dos deuses. Meu irmão também corria perigo, mas segundo elas , Caleb tinha quem o protegesse. O fato é que Caleb me seguiria , era o casamento que daria a ele o direito de reinar e levar Altantis a gloria prevista nas profecias. Eu devia me manter escondida dele, pois segundo elas, isso levaria Hera acreditar que eu tinha desaparecido, talvez morta e refrearia seus planos.

Foram elas que me levaram para o Reino das Areias. Chegamos numa noite de luar a enseada próximo a cidade de Ireen. A enseada era ocupada frequentemente por melforks e nereidas. Os melforks são descendentes de meu meio irmão Tritão, filho de meu pai e Anfitrite e que vivia conosco em Atlantis. Foi Clio que me apresentou a Ive, uma melfork. Eu não sei ate onde elas contaram a ela sobre mim, mas a questão é que fiquei sobre a proteção dela. Ive me apresentou Ireen , um cidade sobre as areias escaldantes do deserto, situada na costa do reino. Lembro de ficar fascinada com a profusão de cores e cheiros que encontrei na cidade. Era tudo novidade para mim, tão diferente do que eu conhecia no fundo do mar. Frequentemente os melforks assumiam a forma humana e se misturavam ao povo da cidade. Foi ela também que me levou ao café, onde eu comecei a trabalhar como dançarina. Os melforks eram divididos em dois Clãs regidos cada um por uma rainha, um deles era governado por Ive, mas o outro tinha Sun como regente. Ambas viviam em conflito numa disputa de poder e me vi sendo disputa por ambas. Era uma disputa sutil, mas que eu podia perceber. Da preocupação de Ive quando Sun se aproximava de mim á solicitude e preocupação de Sun comigo. A enseada se localizava num lugar de difícil acesso para humanos, era impossível chegar lá a não ser por barco e mesmo assim, as rochas dos recifes que cercavam a enseada, tornavam a aventura quase que suicida. E se por acaso , conseguissem vencer os desafios que o acesso exigia, com certeza, não retornariam. Os melforks tomavam as providencias necessárias, para que nenhum estranho retornasse com vida. Era um lugar secreto, um refugio as margens de uma escarpa rochosa que tinha em sua base varias grutas submersas. As grutas incrustradas na rocha tinham pilares e colunas em mármore, conchas de todos os tamanhos , cores e formas ornavam as paredes, a estatua de meu pai ficava num grande salão principal, onde os melforks decidiam suas questões, fossem de ordem interna ou para deliberar algum assunto sobre alianças ou inimigos . Por vezes me reuni ali com eles para as reuniões do conselho, ou simplesmente para me por sobre uma rocha e cantar banhada pela luz da lua. Era um lugar seguro. Meu treino foi posto a serviço dos melforks. Sempre que foi preciso lutei como uma guerreira comum ao lado deles. Mas no geral, eu tentava parecer o mais normal possível. Passava muitos dias em terra, voltando para o mar apenas quando meu corpo pedia. Tentei me misturar aquele povo de estranhos hábitos que vivia dentro dos muros daquela cidade. Peguei gosto pela aparente liberdade que eu tinha ali. Me aconselharam a não usar meus poderes para não chamar a atenção sobre nós. E assim eu fiz. O tempo passou, a saudade de casa diminuiu e a lembrança de meu irmão já não me faziam chorar durante as noites. Virei uma mulher. E tudo ia bem ate que o destino resolveu brincar comigo novamente.

Calista de Atlantis
Princesa Herdeira

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