segunda-feira, 14 de março de 2011

A Fuga

Eu quero ir com você. – Eu estava decidida e o segurava pelo braço exigindo sua antenção. – Pq não , sou tão treinada quanto qualquer um e você me prometeu. – vi a impaciência no olhar que ele me lançou quando se voltou para mim. – Porque é perigoso, porque deves ficar aqui ate que eu volte, nosso casamento esta próximo e não vou para um passeio , vou para a guerra. Agora seja uma boa menina e me espere. Não ganho um beijo de despedida? – Ele falou me segurando pelos ombros e me lançando aquele olhar que eu tão bem conhecia. Eu suspirei, conhecia meu irmão e sabia que ele não mudaria de idéia. Deixei meus lábios irem ao dele e me envolvi em seu abraço. – Eu volto logo, não vai ter nem tempo de sentir minha falta. – Ele sorriu e sinalizou para que os homens ali o seguissem. – Comporte-se – E deu m ultimo olhar para mim antes de atravessar num nado rápido o pátio e seguir com a linha de homens atrás de si pelos portões da cidade. Fiquei olhando do alto da murada os guerreiros se afastarem liderados por Caleb, ate que as águas turvas o engolissem na distancia. Desci para o grande templo decidida. Não queria ficar presa aqueles muros a espera do meu casamento. Sempre tive guardas e aias a minha volta se certificando que nenhuma mão poderia atentar contra minha vida e o resultado disso, tinha sido uma vida limita, restrita aos muros da cidade. Mesmo treinada como toda qualquer atlante, eu tinha meus movimentos guardados. As poucas vezes que me afastei dos portões de Atlantida, foi na companhia de meu irmão e de seus guardas. Era a maldita profecia e tudo o que ela trazia junto. Desci ate o patamar inferior do palácio e dispensei as criadas sem dar explicações , peguei os corredores que davam ao grande templo. O salão real abrigava ao centro a grande estatua de meu pai, Posseidon aos pés dela , dois tronos em mármore ornado em ouro e pedras. Sobre cada um dos tronos repousava as insígnias reais.

No trono do rei , a coroa de Atlantis, forjada na forja do próprio deus dos mares, no trono ao lado, o tridente de Anfitrite, símbolo do poder da rainha e do domínio dela sobre os mares. O acesso ao salão real era restrito, mas como filha da casa real e herdeira me era permitido entrar ali. A profecia dizia que os filhos gêmeos, portadores da linhagem de Posseidon iriam governar juntos e dominar todos os reinos dos mares , expandindo seus domínios aos reinos da terra e do submundo. Entre todos os filhos que meu pai gerou, apenas Caleb e eu éramos um casal de gêmeos. Logo viram em nós os prometidos a levarem o nome de Atlantida e de meu pai a sua gloria total. As amas diziam que eu nasci primeiro e Caleb veio junto no mesmo momento em que minha mãe me expulsou de seu ventre. Ele vinha agarrado a minha cauda e aquilo foi tido como agurio de que a profecia se cumpria. Não me lembro de um so instante em minha vida toda que meu irmão não estivesse comigo. Nas brincadeiras, nos treinos e mesmo durante o sono, quando um pulava para a cama do outro para dormirmos juntos. Sempre pude saber o que ele desejava mesmo sem que ele esboçasse uma única palavra e ele sabia o que eu pensava como se pudesse ler minha mente. Nossa ligação era profunda e intensa como um único ser divididos em dois corpos. Estavamos destinados a nos unir como homem e mulher , como rei e rainha e reinar juntos.
Me aproximei do trono da rainha. Aquele tridente um dia me pertenciria. Sabia do poder dele . Naquele momento eu vascilei por uns intantes , mas eu estava decidida. Peguei o tridente e abri a passagem secreta que havia atrás da estatua de meu pai e desci para os subterrâneos da cidade. Quando criança , Caleb tinha me ensinado aquele caminho para fora dos muros da cidade. Percorri ele ciente de que despertaria a fúria de meu irmão , não poderia haver um rei sem uma rainha, e a coroa , o direito de reinar ,era algo que ele sempre desejou. Deixei meu irmão para traz, minha cidade e a vida que eu tinha. Talvez a mão do destino estivesse ali naquela hora, guiando meus passos, pois quando deixei a cidade eu evitei que a profecia fosse quebrada. A cidade foi invadida . O povo de Lemuria e de Mu, em acordo com Hera invadiu a cidade com a missão de matar um dos gêmeos.
Eu era na época uma menina, cheia de sonhos e fantasias , ávida por aventuras que eu nunca tinha vivido. O peso da coroa e da responsabilidade eram um fardo enorme para mim. Sabia que meu irmão iria atrás de mim, então sempre me mantive em movimento. Cidades , reinos e todos os continentes que visitei , em todos eles eu nunca fiquei mais tempo do que necessário, eles nunca foram seguros para mim. O mar , que sempre foi meu abrigo, tinha se tornado minha fraqueza. Era a porta de Caleb para mim e eu passei a evita-lo. Quando a urgência de meu corpo e de minha natureza gritava e me rasgava a alma eu me permitia voltar para os braços do oceano, mas era também o momento em que eu migrava para que meu irmão não me encontrasse. Quanto mais distante do meu irmão , mais seguro era para manter a vida que eu tinha escolhido e foi para o lugar mais improvável que eu decidi ir: o reino das areias. Longe o bastante e remotamente possível para alguém como eu estar.

Por que nunca voltei? As vezes me faço essa pergunta, sei que um dia eu terei que voltar mas acho que peguei gosto pela liberdade que conquistei. Liberdade...não posso deixar de sorrir com a ironia do destino. Tenho agora um colar e o barulho das correntes que me prendem a um poste como resultado do meu sonho. Eu devia ter deixado o maldito pirata ir embora, mas a boca não suportava o gosto de ser enganada. Meu sangue falou mais alto e talvez ate minha arrongacia. Ataquei e roubei o pirata que tentou me enganar. Os deuses me tentaram com a possibilidade do dinheiro fácil naquele dia em que ele entrou no café onde eu dançava. Seria um serviço simples e algumas moedas de ouro extras para que eu me mantivesse por algum tempo. O que diria Caleb agora ao me ver. Sua rainha capturada, violada , presa a correntes e pior...sem o tridente .
Calista
Princesa de Herdeira de Atlantis

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